10.12.12

Masoquista vs Visionário.


                Talvez, eu esteja a fazer um grande esforço ao tentar moldar-me, continuada e persistentemente, como se de uma tarefa importante se tratasse, daquelas em que, se falharmos, algo de muito mau, acontece. Porém, o que me parece mais real é que não me estou a moldar, mas algo me está a moldar e, eu, estou a deixar-me moldar, docemente!
                Vim-me de bicos: de formas irregulares e cortantes, mas claras, transparentes e faladoras, para me tornar em círculos perfeitos suaves, mas, escuros, opacos e “fala baratos”. Digamos pois, que nunca uma máscara pode ser tão forte quando aparenta algo, fiável, no entanto, no final, vem a saber-se que não era nada “d’aquilo” e era totalmente o oposto.
                (Indignação.)
                Só aponto os defeitos, está claro… Há que ponderar os “pormenores (zinhos)” positivos,  bem cheirosos e bons. 
                Como uma nova flor, acabada de crescer e de abrir (declarada ao sol matinal), que oferece tudo ao visionário, está cheirosa, bonita, doce, suave, bem-parecida, ainda húmida e fresca. O visionário vai tentar colhê-la e, levá-la consigo para, dentro de um copo de água amarela, na sua janela, de onde se vê a aldeia e a cidade, e o sol, e o mar, e o rio (que bom!), mas… a flor tinha espinhos. Espinhos grossos e duros difíceis de cortar! Espinhos cansativos e feios! Espinhos que nem a mais forte Sr.ª Tesoura podia deixar embalar.
                Então o utopista decidiu colher uma papoila que por lá andava, simples, sem espinhos, sem graça, todavia bem vermelha, cor de sangue. 
                Passaram alguns dias e a cor de sangue da papoila parecia, a pouco e pouco, ir perdendo…”sangue”, ia morrendo… Um dia, a papoila morreu e espalhou pela janela, donde se via o mar, a aldeia, a cidade e tantas outras coisas, um cheiro horrendo e peludo! O visionário decidiu voltar ao lugar da papoila e da flor com espinhos.
                Quando lá chegou a flor com espinhos tinha desaparecido! Fora cortada! Alguém conseguiu suportar os espinhos, e cortou-a! Como era possível? Como? Quem foi capaz?
                O visionário ficara desapontado e triste, logo voltou para casa e escreveu belos poemas sobre a flor e sobre a sua mágoa, provocada pelos espinhos. 
                O tempo passou. O visionário conheceu outras flores e, o Homem omnisciente pensou: como era possível o masoquista ter colhido a flor de espinhos e o visionário não. Ele, Homem, deu sofrimento ao masoquista e uma procura infinita da felicidade ao visionário, e mesmo assim o masoquista conseguira colher a flor e, ser feliz. O visionário, sem conseguir colher a flor, fica quebrado por não conquistar a flor e passa o resto da sua vida escrevendo poemas melancólicos sobre a flor, olhando a janela, sem conseguir ver a cidade, o sol, a aldeia e o mar. O Homem estava confuso, algo de paradoxo se passava.
                O Homem estava confuso e, era dia Santo, por isso, decidira ir dormir e pensar sobre aquilo mais tarde. O Homem esquecera aquilo…o visionário morrera e o masoquista, todas as primaveras, parecia uma criança feliz. Sem procurar a felicidade, ele colhia flores, feliz. 

Sem comentários:

Enviar um comentário