Talvez,
eu esteja a fazer um grande esforço ao tentar moldar-me, continuada e
persistentemente, como se de uma tarefa importante se tratasse, daquelas em
que, se falharmos, algo de muito mau, acontece. Porém, o que me parece mais
real é que não me estou a moldar, mas algo me está a moldar e, eu, estou a
deixar-me moldar, docemente!
Vim-me
de bicos: de formas irregulares e cortantes, mas claras, transparentes e
faladoras, para me tornar em círculos perfeitos suaves, mas, escuros, opacos e
“fala baratos”. Digamos pois, que nunca uma máscara pode ser tão forte quando
aparenta algo, fiável, no entanto, no final, vem a saber-se que não era nada
“d’aquilo” e era totalmente o oposto.
(Indignação.)
Só
aponto os defeitos, está claro… Há que ponderar os “pormenores (zinhos)”
positivos, bem cheirosos e bons.
Como
uma nova flor, acabada de crescer e de abrir (declarada ao sol matinal), que
oferece tudo ao visionário, está cheirosa, bonita, doce, suave, bem-parecida,
ainda húmida e fresca. O visionário vai tentar colhê-la e, levá-la consigo
para, dentro de um copo de água amarela, na sua janela, de onde se vê a aldeia
e a cidade, e o sol, e o mar, e o rio (que bom!), mas… a flor tinha espinhos.
Espinhos grossos e duros difíceis de cortar! Espinhos cansativos e feios!
Espinhos que nem a mais forte Sr.ª Tesoura podia deixar embalar.
Então o
utopista decidiu colher uma papoila que por lá andava, simples, sem espinhos,
sem graça, todavia bem vermelha, cor de sangue.
Passaram
alguns dias e a cor de sangue da papoila parecia, a pouco e pouco, ir
perdendo…”sangue”, ia morrendo… Um dia, a papoila morreu e espalhou pela
janela, donde se via o mar, a aldeia, a cidade e tantas outras coisas, um
cheiro horrendo e peludo! O visionário decidiu voltar ao lugar da papoila e da
flor com espinhos.
Quando
lá chegou a flor com espinhos tinha desaparecido! Fora cortada! Alguém
conseguiu suportar os espinhos, e cortou-a! Como era possível? Como? Quem foi
capaz?
O
visionário ficara desapontado e triste, logo voltou para casa e escreveu belos
poemas sobre a flor e sobre a sua mágoa, provocada pelos espinhos.
O tempo
passou. O visionário conheceu outras flores e, o Homem omnisciente pensou: como
era possível o masoquista ter colhido a flor de espinhos e o visionário não.
Ele, Homem, deu sofrimento ao masoquista e uma procura infinita da felicidade
ao visionário, e mesmo assim o masoquista conseguira colher a flor e, ser
feliz. O visionário, sem conseguir colher a flor, fica quebrado por não
conquistar a flor e passa o resto da sua vida escrevendo poemas melancólicos
sobre a flor, olhando a janela, sem conseguir ver a cidade, o sol, a aldeia e o
mar. O Homem estava confuso, algo de paradoxo se passava.
O Homem
estava confuso e, era dia Santo, por isso, decidira ir dormir e pensar sobre aquilo
mais tarde. O Homem esquecera aquilo…o visionário morrera e o masoquista, todas
as primaveras, parecia uma criança feliz. Sem procurar a felicidade, ele colhia
flores, feliz.
Sem comentários:
Enviar um comentário