3.5.12

Boa noite.



- Se por acaso a tempestade havia acalmado e deixado de assustar as mais inocentes cabecinhas, de repente, ela volta, come tudo, varre tudo e  sopra tudo, mas há uma mão que não a tema, uma mão pequena, frágil, mas dócil, oh sim, tão dócil. Essa mão abre a janela, que deixa o gato esconder debaixo do tapete, essa janela cala-se e nunca mais canta, essa janela abre-se e deixa a mão escapar. A chuva escorrega pela mão, desce os seus dedos, contorna a pele dobrada, entra nos poros da mão, porém a mão não se fecha nem reage. Abre-se ainda mais e deixa as gotas escorregarem pelo antebraço que redescobrem a linha do cotovelo. A mão fecha-se, recolhe-se e volta para dentro da janela e a menina, dona dessa mão, quando tiver de se agarrar aos lençóis traiçoeiros e taciturnos, com medo das vis criaturas do sono, vai relembrar as gotas, a noite fria, os seus dedos e a melodia calma e melosa das penas da ave branca, rainha do seu sono.

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